sábado, 28 de maio de 2011
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Cultura acessível a todos
O Centro de Documentação Histórica – Pesquisa II Guerra Mundial (1939/1945) constitui um espaço de memória organizado pela Capitã Altamira Pereira Valadares, enfermeira batataense da Força Expedicionária Brasileira, que se dedicou à coleção de fotografias, documentos, livros e objetos relacionados à história da II Guerra Mundial, para a formação de um local de pesquisa e documentação em Batatais.
O acervo do Centro de Documentação é composto por fardas e documentos dos pracinhas, uniformes de campanha e de gala das enfermeiras, marmitas, cantis, talheres, botas, sapatos, galochas, objetos de primeiros socorros, medalhas, documentos e fotografias das enfermeiras, além de inúmeras fotografias, suvenires, publicações (livros, revistas e jornais) sobre a Segunda Guerra Mundial e a Força Expedicionária Brasileira, além de uma exposição itinerante.
Todo este material constitui uma fonte de pesquisa extensa e muito detalhada sobre este triste fato histórico mundial, com riqueza de informações contidas nos relatos diários da própria Capitã Altamira e nas inúmeras fotografias, grande parte com identificação.
Construída com os próprios recursos da Capitã Altamira, a sede definitiva do Centro de Documentação foi inaugurada no dia 06 de Maio de 1994. Em Março de 2004 a Capitã Altamira faleceu, deixando como sua sucessora a sobrinha Ivete Pereira Lavagnoli de Montanha que, em parceria com o poder púbico municipal e o Tiro de Guerra de Batatais, sob a instrução do 1º Sargento Edivo Gomes da Silva, iniciou em 2007 as obras de reforma do Centro de Documentação e nova organização museográfica, inaugurada no dia 17 de Maio de 2008.
A ação educativa desenvolvida pelo Centro de Documentação da II Guerra Mundial surgiu após a realização do Fórum de Educação promovido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura em Julho de 2008, cujo tema principal era a questão da inclusão dos portadores de necessidades especiais na rede pública de ensino.
Além de freqüentar a sala de aula adaptada para atender a necessidade do aluno especial, sem separá-lo do contato com outros alunos, as atividades extra classe também devem ser adaptadas para não excluir nenhum aluno com qualquer limitação física ou mental.
Sendo o Centro de Documetação da II Guerra uma instituição cultural parceira da educação, entendemos que podemos trabalhar de forma efetiva na diminuição dos preconceitos, da intolerância e da ignorância em relação à questão da inclusão.
Para tanto, tivemos que encontrar um caminho próprio para contribuir com a educação, e estabelecer novos parâmetros na divulgação de nosso acervo sobre a participação dos batataenses na II Guerra Mundial, implementando processos expositivos que exploram os sentidos e incentivam a integração entre os diferentes.
Nesta exposição, o público pode conhecer detalhes sobre as aventuras, vitórias e dificuldades pelas quais os brasileiros passaram no roteiro desenvolvido pela FEB (Força Expedicionária Brasileira) em solo italiano durante a II Guerra. O princípio básico de nossa ação educativa é a experiência direta com os objetos juntamente com a utilização de recursos sonoros, olfativos e táteis, para se chegar à compreensão e valorização da história, num processo contínuo de descoberta.
A todos os visitantes foi oferecida a oportunidade de se fazer o percurso com vendas nos olhos, acompanhando a demarcação de uma corda no chão. O alto relevo proporcionado pela corda devidamente pregada ao chão com fita adesiva larga e transparente, facilita o uso de bengalas ou do próprio tato do pé na identificação do caminho a ser realizado. Um tapete emborrachado (utilizado em chuveiro) foi fixado ao chão para demarcar os trechos de parada.
O primeiro ponto de parada corresponde ao primeiro dia dos brasileiros na Itália, quando os mesmos dormiram ao relento em um bosque localizado próximo ao vulcão. Neste trecho há a utilização de folhagens e odores artificiais de eucalipto para contextualizar a mata e os visitantes podem manusear os utensílios utilizados para alimentação dos soldados, percebendo a diferença entre as marmitas produzidas no Brasil e nos EUA.
Continuando o trajeto, o próximo ponto de parada possui uma escultura em papel machê da capitã Altamira com as medidas verdadeiras e objetos utilizados pela mesma durante a guerra, que também podem ser manuseados. A escultura da capitã foi feita por um casal de artistas plásticos (Débora de Paula e Júnior Vasconcellos) em 2007.
Todos os objetos da exposição estão com etiqueta em português e etiqueta em Braille.
O trajeto também é contextualizado com uma trilha sonora, criada pelo técnico Luciano sendo em um primeiro momento uma música que representa a longa viagem de navio até a Itália. Em alguns momentos a trilha é interrompida por tiros e disparos diversificados, se intensificando com outra música simbolizando a tensão das batalhas.
Quando o visitante chega à terceira parte do roteiro, ele pode tatear algumas representações em relevo de monumentos italianos feitos com EVA, cola com relevo e areia colorida. Uma sociedade que não se reconhece está fadada à perda de sua identidade e ao enfraquecimento de seus valores mais intrínsecos.
Diante desta realidade, apresentamos a proposta de uma ação educacional voltada para o uso e apropriação dos bens culturais disponíveis no Centro de Documentação, alertando ao público sobre a importância da preservação de sua memória e valorização da identidade tanto da cidade quanto do país.
Outra oportunidade de aprendizado através do tato está na 4ª parte da exposição em que o visitante pode tatear uma maquete representativa do roteiro da FEB na Itália, e sentir a umidade do mar (gel de cabelo), o relevo dos Montes Apeninos (gesso) a localização do cemitério de Pistóia e os pontos de vitória dos brasileiros. Um resumo sobre a história da II Guerra está exposto em 7 banners que foram traduzidos para o Braille.
Quando o visitante está nesta etapa, geralmente a trilha sonora já está tocando a “Tarantela” simbolizando a felicidade pelo final da guerra.
A 5ª parte da exposição é uma maquete em EVA representativa de uma foto do Cemitério de Pistóia, onde os brasileiros mortos em combate ficaram enterrados até 1960.
Por fim, o visitante chega ao início novamente do roteiro estabelecido pela corda, só que do outro lado da mesa com os objetos que representam a chegada dos brasileiros há uma parede com a foto dos seis batataenses dos 33 que foram para a II Guerra, que estão vivos e as três medalhas
Parceiros: Secretaria Municipal de Educação e Cultura (fornecimento de material para a confecção das maquetes e dos convites, além da compra da corda de identificação do trajeto)
Escola Municipal de Ensino Fundamental Prof.ª Alzira Acra, que disponibilizou os trabalhos da professora Márcia Bonfá na transcrição de todas as etiquetas e informações em Braille e levou seus alunos deficientes visuais para uma visita monitorada ao Centro de Documentação.
Professora Márcia Bonfá que deu as dicas de como adaptar o espaço para a circulação do deficiente visual, com a utilização de cordas e tapetes emborrachados.
Produtor de mídia Luciano Caneli que elaborou a trilha sonora da exposição.
Tiro de Guerra de Batatais 02-047 na aquisição de tintas para a confecção da maquete do roteiro da FEB.
Objetivos do Projeto/Ação:
Geral:
· Permitir a interação dos visitantes com o espaço e os objetos em exposição, através de um roteiro pré-determinado.
· Possibilitar o contato com a escrita em braile para todos os presentes.
· Conscientizar o público sobre a importância de se pensar e preparar os espaços com acessibilidade para todos os tipos de pessoas.
· Ampliar a percepção da exposição com a utilização do tato, audição e olfato.
· Contribuir para o aprendizado da temática da II Guerra em parceria com as turmas que estudam este assunto a partir do 3º bimestre (8ª série e turmas colegiais)
Específicos:
· A ação educativa intitulada “Um Novo Contato com a Itália” tem como principal objetivo possibilitar o acesso do deficiente visual a uma exposição sobre a II Guerra Mundial.
· Democratizar o Centro de Documentação.
terça-feira, 17 de maio de 2011
Museu e Memória
Mês dos Museus
De 02 a 27 de Maio de 2011
“Museu e Memória”
1- Apresentação
No dia 18 de maio, comemoramos o Dia Internacional dos Museus, data instituída pelo ICOM (Conselho Internacional de Museus) em 1977, com a intenção de promover a conscientização da população sobre a importância dos museus no desenvolvimento social.
Também sobre a coordenação do ICOM, a cada ano os museus recebem uma proposta de temática para ser trabalhada, sendo que em 2011 o tema será “Museus e Memória”.
Acreditamos que este tema seja de fácil compreensão, uma vez que o museu é criado com a intenção de guardar e divulgar os fatos do passado. Porém, o desafio está em como tornar um tema simples em um projeto interessante que atraia a população.
E foi priorizando o desafio de realizar algo inovador, que elaboramos este projeto de ação educativa voltado para o contato com objetos que geram memórias e histórias.
O projeto é realizado nas dependências da Estação Cultura Editor José Olympio, mais precisamente na área livre aos fundos e no Museu Histórico e Pedagógico Dr. Washington Luis, de 02 a 27 de maio, no período da manhã e à tarde, atendendo a um grupo de no máximo 50 pessoas em cada etapa com duração de 2h e 30 minutos.
Dentre as atividades previstas estão as oficinas de escavações arqueológicas no terreno aos fundos da estação, contadores de histórias e encenação teatral, tendo como público alvo os estudantes do ensino fundamental e médio.
2- Justificativa
O presente projeto faz parte da 11ª edição da Semana dos Museus, organizada pelo Ministério da Cultura em parceria com instituições museais de todo o país.
Desde 2008, o Museu Histórico e Pedagógico Dr. Washington Luis participa da programação, com atividades diversificadas de acordo com o tema proposto, atendendo a uma média de 1.500 crianças e adolescentes em cada edição.
As atividades propostas para 2011 visam provocar um maior questionamento sobre os objetos antigos e as possibilidades de aprendizado que os mesmos proporcionam.
Neste contexto se insere a ação educativa de “Escavações Arqueológicas”, em que iremos criar um campo arqueológico nos fundos da Estação Cultura, para que o público participante tenha a oportunidade de realizar a busca por pequenos objetos enterrados nesta área.
Após encontrar os objetos, os mesmos devem ser separados por categorias nas mesas de trabalho, identificados e estudados a fim de se retirar informações no próprio objeto e em seu contexto, sendo o objeto o único portador das informações através da observação de seu material, cor, funcionalidade, estado de conservação e demais informações.
A segunda etapa da ação educativa será a apresentação baseada no livro de Ana Maria Machado “Bisa Bia, Bisa Bel”,em que um personagem irá resgatar as histórias de seus antepassados através dos objetos encontrados na escavação.
Por fim, na terceira etapa o publico participante irá conhecer o acervo do Museu e a importância da guarda desses objetos para a história de Batatais.
A sequencia das atividades tem a intenção de fazer com que o participante sinta a necessidade de conhecer a história dos objetos encontrados aleatoriamente no terreno preparado para escavação e depois faça a relação com a riqueza de informações que podemos obter dos objetos antigos nas narrativas. A visita ao acervo do Museu, comprova a importância da preservação de objetos que nos ajudam a contar a história de uma localidade e a manter esta memória viva.
Esta ação educativa foi pensada com o ojetivo de provocar a participação do público, atribuindo a ele experiência de ser o responsável pela proteção dos achados arqueológicos.
3- Objetivos
O principal impacto que este projeto pretende causar é a mudança de atuação do público diante de um objeto antigo.
Ao escavar a área preparada para a pesquisa arqueológica, os alunos serão responsáveis pelas descobertas e pelas investigações provenientes da terra, cabendo a eles a tarefa de cuidar dos achados e tentar relacioná-los.
As peças enterradas serão organizadas e disponibilizadas de forma contar a história de uma família fictícia que viveu no século XIX: instrumentos de cozinha, pedaços de louças, caixinhas com retratos, moedas antigas, candeia, pedaços de pisos e telhas, caixinha com cartas, pequenos broches, prendedores de cabelo e demais objetos relacionados ao cotidiano de uma família.
O projeto é inovador em Batatais e muito envolvente, garantindo a participação de todos nas três etapas.
4- Público Alvo
Como projeto anual, estamos habituados a atender ao público estudantil do 5º ano do Ensino Fundamental, tanto da rede pública quanto da particular.
Pretendemos manter esta faixa etária, para que a cada ano tenhamos este público participando de uma ação educativa no museu.
Na faixa etária de nove a onze anos, as crianças estão aptas e interessadas em conhecer as histórias de outros tempos, conseguindo fazer relações com os dias atuais.
Como nos eventos anteriores, nossa meta de público está entre 1.000 e 1.500 crianças.
5- RESULTADOS PREVISTOS
- Trabalho em equipe na busca pelos objetos enterrados
- Desenvolvimento da investigação com a ajuda dos demais objetos
- Seleção dos objetos em categorias
- Participação na ação educativa com responsabilidade
- Compreensão sobre o papel do museu como espaço de memória
Texto adaptado do livro “Guilherme Augusto Fernandes” de Mem Fox
Era uma vez um menino chamado Guilherme Augusto Araújo Fernandes e ele nem era tão velho assim. Sua casa era ao lado de um asilo de velhos e ele conhecia todo mundo que vivia lá.
Ele gostava da Senhora Silvano que tocava piano.
Ele ouvia as histórias arrepiantes que lhe contava o Senhor Cervantes.
Ele brincava com o Senhor Valdemar que adorava remar.
Ajudava a Senhora Mandala que andava de bengala.
E admirava o Senhor Possante que tinha voz de gigante.
Mas a pessoa de quem ele mais gostava era a Senhora Antônia Maria Diniz Cordeiro, porque ela também tinha quatro nomes, como ele.
Ele a chamava de Dona Antônia e contava-lhe todos os seus segredos.
Um dia, Guilherme Augusto escutou sua mãe e seu pai conversando sobre Dona Antônia.
_ Coitada da velhinha – disse sua mãe.
_ Por que ela é coitada? – perguntou Guilherme Augusto.
_ Porque ela perdeu a memória – respondeu seu pai.
_ Também, não é para menos – disse sua mãe. – Afinal, ela já tem noventa e seis anos.
_ O que é memória? – perguntou Guilherme Augusto.
Ele vivia fazendo perguntas.
_ É algo de que você se lembre – respondeu o pai.
Mas Guilherme queria saber mais, então, ele procurou a Sra. Silvano que tocava piano.
_ O que é memória? – perguntou.
_ Algo quente, meu filho, algo quente.
Ele procurou o Sr. Cervantes que lhe contava histórias arrepiantes.
_ O que é memória? – perguntou.
_ Algo bem antigo, meu caro, bem antigo.
Ele procurou o Sr. Possante que tinha voz de gigante.
_ O que é memória? – perguntou.
_ Algo que vale ouro, meu jovem, algo que vale ouro.
Então, Guilherme Augusto voltou para casa para procurar memórias para Dona Antônia, já que ela tinha perdido as suas.
Ele procurou uma antiga caixa de sapato cheia de conchas, guardadas há muito tempo, e colocou-as com muito cuidado numa cesta. Ele achou a marionete, que sempre fizera todo mundo rir, e colocou-a na cesta também. Ele lembrou-se, com tristeza, da medalha que seu avô lhe tinha dado e colocou-a delicadamente ao lado das conchas.
Depois achou a bola de futebol, que para ele valia ouro; por fim, entrou no galinheiro e pegou um ovinho fresquinho, ainda quente, debaixo da galinha.
Aí, Guilherme Augusto foi visitar Dona Antônia e deu a ela, uma por uma, cada coisa de sua cesta.
“Que criança adorável que me traz essas coisa maravilhosas?”, pensou Dona Antônia.
E então ela começou a se lembrar...
Ela segurou o ovo ainda quente e contou a Guilherme Augusto sobre um ovinho azul, todo pintado, que havia encontrado uma vez, dentro de um ninho, no jarim da casa de sua tia.
Ela encostou uma das conchas no ouvido e lembrou da vez que tinha ido à praia de bonde, há muito tempo, e de como sentira calor com as botas de amarrar.
Ela pegou a medalha e lembrou, com tristeza, de seu irmão mais velho, que havia ido para a guerra e que nunca mais voltou.
Ela sorriu para a marionete e lembrou da vez em que mostrara uma para sua irmãzinha, que rira às gargalhadas com a boca cheia de mingau.
Ela jogou a bola de futebol para Guilherme e lembrou do dia em que se conheceram e de todos os segredos que haviam compartilhado.
E os dois sorriram e sorriram, pois toda a memória perdida de Dona Antônia tinha sido encontrada, por um menino que não era tão velho assim.
sábado, 14 de maio de 2011
A cúpula da igreja matriz
Em 1994 Batatais é elevada à categoria de Estância Turística do Estado de São Paulo pelos seus atrativos naturais e artísticos, como a Igreja Matriz, cujo projeto da cúpula foi feito por Carlos Zamboni, um imigrante italiano natural de Bréscia, e que fez a cúpula de Batatais igual à de sua cidade natal.
Não é correto dizer que a igreja de Batatais é uma réplica em miniatura da Catedral de São Pedro em Roma, o que pode ser comprovado nas imagens da Catedral de Bréscia.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Respeitar ou pertencer
Existe uma grande diferença entre respeitar a história e pertencer a ela.
Ao respeitarmos uma história, estamos cientes dos fatos ocorridos no passado e temos plena noção de que os mesmos passam por constantes alterações diante das novas exigências do mundo contemporâneo.
Por outro lado, pertencer a uma história indica uma maior cumplicidade com os fatos ocorridos no passado, que de certa forma são preservados espontaneamente na memória coletiva, através dos nossos gestos, costumes, rituais e celebrações.
Quanto mais rápida as mudanças ocorridas em uma cidade, mais difícil será a preservação da memória coletiva e, infelizmente, as mudanças são inevitáveis. O mundo atual impõe uma atualização constante das coisas, mediante os avanços tecnológicos e capitalistas.
Primeira estação Mogiana de Batatais
O poeta Carlos Drummond de Andrade, sensível a esta necessidade do pertencimento ao passado, escreveu diversas poesias sobre a sua condição diante das principais edificações que marcaram a sua vida, sejam elas construções comuns ou prédios públicos.
Tomo a liberdade de apresentar trechos de duas poesias de Drummond, que exemplificam muito bem a relação de pertencimento entre cidadão Carlos Drummond de Andrade e os lugares de memória da cidade.
“Fechado o Cinema Odeon, na Rua da Bahia.
Fechado para sempre.
Não é possível, minha mocidade
fecha com ele um pouco.
Não amadureci ainda bastante
para aceitar a morte das coisas
que minhas coisas são, sendo de outrem,
e até aplaudi-la, quando for o caso.
(Amadurecerei um dia?)
Não aceito, por enquanto, o Cinema Glória,
maior, mais americano, mais isso-e-aquilo.
Quero é o derrotado Cinema Odeon,
o miúdo, fora-de-moda Cinema Odeon.
A espera na sala de espera. A matinê
com Buck Jones, tombos, tiros, tramas.” (O fim das coisas – Carlos Drummond de Andrade)
Fechado para sempre.
Não é possível, minha mocidade
fecha com ele um pouco.
Não amadureci ainda bastante
para aceitar a morte das coisas
que minhas coisas são, sendo de outrem,
e até aplaudi-la, quando for o caso.
(Amadurecerei um dia?)
Não aceito, por enquanto, o Cinema Glória,
maior, mais americano, mais isso-e-aquilo.
Quero é o derrotado Cinema Odeon,
o miúdo, fora-de-moda Cinema Odeon.
A espera na sala de espera. A matinê
com Buck Jones, tombos, tiros, tramas.” (O fim das coisas – Carlos Drummond de Andrade)
“Estão demolindo
o edifício em que não morei.
Tinha um nome
somente meu.
o edifício em que não morei.
Tinha um nome
somente meu.
Meu, de mais ninguém.
O edifício
não era meu.” (O Nome – Carlos Drummond de Andrade)
Além das infindáveis demolições, sentimentos como a falta de tempo e insegurança em relação à violência são típicos desta nova realidade imposta, em que o homem vem se isolando cada vez mais de seu grupo. Quanto mais o homem se individualizar, menor será a sua memória coletiva, que forma a identidade de uma cidade.
Desaparecendo a memória coletiva, a cidade não deixará de existir. Sua história permanecerá registrada nos documentos e museus.
Mas, desaparecendo os suportes da memória, estaremos perdendo um dos mais importantes elementos de formação do cidadão, no sentido pleno da palavra.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Desenhando Batatais
Rua Celso Garcia
Antigo Fórum e Cadeia - Centro Cultural Sérgio Laurato
Residência de Altino Arantes
Memorial dos Caiapós
Palacete Monsenhor Joaquim Alves
O Diário: Anne Frank e Eu
O presente projeto de ação educativa surgiu após a leitura do instigante diário escrito por Anne Frank, uma garota de treze anos que não temia em dizer a verdade sobre a sua vida, sentimentos, família, relacionamentos e também sobre as atrocidades sofridas pelos judeus durante a II Guerra Mundial.
Anne Frank, sua família e mais quatro pessoas (todos judeus), ficaram escondidos dos alemães durante 25 meses, em um local por eles denominado de Anexo Secreto. Anne tinha no diário o seu único confidente, e após escutar no rádio que quando terminada a guerra, os diários e cartas escritos durante esse período deveriam seu preservados e divulgados, ela com quinze anos passou a reescrevê-lo com mais informações, tentando realmente registrar todas as impressões que tinha sobre a condição humana durante a II Guerra.
Sustentada por sua cordialidade, espírito, inteligência e pelos grandes recursos de sua vida interior, Anne escreveu e pensou sobre as coisas que pensam os adolescentes sensíveis e talentosos – relação com os pais, crescente consciência de si mesmos, problemas da transição para a vida adulta. (ELEANOR ROOSEVELT, 1958)
Nada mais oportuno do que promover a leitura desse diário por meninas adolescentes, e a partir desta experiência proporcionarmos a elaboração de uma exposição em comemoração aos 64 anos do término da II Guerra, em 8 de maio de 2009.
A Ação Educativa intitulada O Diário: Anne Frank e Eu é uma proposta de uso e apropriação da história da II Guerra Mundial, com ênfase na questão do Holocausto, sob o ponto de vista das adolescentes participantes do projeto.
OBJETIVOS GERAIS:
- Sendo o Centro de Documentação da II Guerra uma instituição cultural voltada para a integração com a população, para assim cumprir o seu principal papel como agente transformador da sociedade, entendemos que podemos trabalhar de forma efetiva na diminuição dos preconceitos e da intolerância entre as pessoas.
- divulgação do Centro de Documentação como um espaço de memória, conhecimento e lazer.
- utilização da exposição como um recurso didático para a rede escolar ao se estudar a II Guerra Mundial
- proporcionar reflexões sobre o que pode ser considerado o holocausto de nossos dias.
O processo educativo, em qualquer área de ensino/aprendizagem, tem como objetivo levar os alunos a utilizarem suas capacidades intelectuais para a aquisição de conceitos e habilidades, assim como para o uso desses conceitos e habilidades na prática, em sua vida diária e no próprio processo educacional. A aquisição é reforçada pelo uso dos conceitos e habilidades, e o uso leva à aquisição de novas habilidades e conceitos. (Maria de Lourdes Parreiras Horta)
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
- desenvolvimento do auto-conhecimento das adolescentes e da consciência sobre a importância da tolerância mútua, para que barbaridades como as da II Guerra não voltem a ocorrer.
- utilizar a ação educativa e a exposição como instrumentos de motivação, individual e coletiva, para a prática da cidadania e o estabelecimento de um diálogo enriquecedor entre as gerações.
SOBRE A AÇÃO EDUCATIVA:
O princípio básico do projeto é a experiência direta com o diário de Anne Frank e a troca de experiências entre as adolescentes para se chegar à compreensão do que foi o holocausto, num processo contínuo de descoberta.
Em um segundo momento do projeto, todas as discussões e produções realizadas durante os encontros ficarão em exposição para uma divulgação maior desses conceitos para toda a comunidade.
O conhecimento crítico e a apropriação consciente por parte das comunidades e indivíduos do seu “patrimônio” são fatores indispensáveis no processo de preservação sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania. (Maria de Lourdes Parreiras Horta)
1º ENCONTRO – DIA 06 DE ABRIL
Apresentação do projeto para as 15 adolescentes selecionadas pelos professores de Língua Portuguesa da Escola Municipal Prof.ª Esther Vianna de Bologna, dando prioridade àquelas que se interessam por literatura.
Entrega do Kit da Ação Educativa: o livro, uma boneca e um caderno.
A boneca deve ser levada para casa e ser personalizada pela adolescente. Suas roupas, pele, cabelo e acessórios serão formados no decorrer da leitura do livro, de acordo com as impressões que a adolescente deseje passar sobre a personagem Anne Frank.
O caderno será usado como diário da adolescente, para que a mesma faça suas anotações, comentários e impressões sobre o conteúdo do diário de Anne Frank, assim como também possíveis relações com sua vida pessoal. Para isso a adolescente deve criar pseudônimos tanto para ela quanto para os demais nomes que possam aparecer em seu diário, garantindo assim a sua privacidade e o respeito com os outros. Os cadernos devem ser personalizados desde as capas como em todo conteúdo que for escrito ou desenhado em seu interior.
Diário escrito na década de 1990
ORIENTAÇÕES GERAIS:
- SOBRE ANNE FRANK: Anne Frank nasceu em 1929, na Alemanha, filha de um banqueiro e de uma dona de casa. Aos 4 anos de idade, Anne foi obrigada a sair do país com sua família após a chegada de Adolph Hitler ao poder. Em 1942, com a perseguição aos judeus deflagrada também na Holanda, Otto Frank, sua mulher e filhas unem-se a mais quatro pessoas e decidem se esconder dos invasores alemães. Por dois anos, até serem delatados, eles tiveram que viver limitados ao anexo do sótão do escritório de Otto Frank. No esconderijo, o diário de Anne era o único instrumento de liberdade que ela possuía, e, nele, relatou a vida cotidiana do anexo Secreto, as transformações sofridas por cada um dos que ali residiam e a angústia daqueles dias. Anne Frank morreu de tifo, no campo de concentração Bergen-Belsen, aos 15 anos de idade.
- SOBRE A PERSEGUIÇÃO AOS JUDEUS:
Depois de maio de 1940, os bons momentos foram poucos e muito espaçados: primeiro veio a guerra, depois, a capitulação, em seguida, a chegada dos alemães, e foi então que começaram os sofrimentos dos judeus. Nossa liberdade foi gravemente restringida com uma série de decretos anti-semitas: os judeus deveriam usar uma estrela amarela; os judeus eram proibidos de andar nos bondes; os judeus; os judeus eram proibidos de andar de carro, mesmo em seus próprios carros; os judeus deveriam fazer suas compras entre três e cinco horas da tarde; os judeus só deveriam freqüentar barbearias e salões de beleza de proprietários judeus; os judeus eram proibidos de sair às ruas entre oito da noite e seis da manhã; os judeus eram proibidos de freqüentar teatros, cinemas ou ter qualquer outra forma de diversão;(...)
- Pesquisar no dicionário todas as palavras desconhecidas para entender o seu significado.
- Possíveis comparações que podem ser feitas: descrição dos amigos de sala, os presentes que Anne ganhou no aniversário, a ausência de um amigo em que se possa confiar, membros da família, ambiente escolar, paixões de adolescentes, etc.
- Realizar uma ficha com as características físicas e de personalidade de cada integrante do Anexo Secreto.
- Pedir a cada integrante que comece a guardar potes de vidros variados que possam ser pintados para montagem da exposição.
MATERIAL DO PRIMEIRO ENCONTRO:
“O papel tem mais paciência do que as pessoas”
- diários pessoais de uma adolescente, escritos durante as décadas de 1980 e 1990 para que as participantes tenham uma idéia do que seja um diário e como ele pode ser formado, com figuras, desenhos e anotações.
Kit para intervenção
Fiquei alguns dias sem escrever porque queria, antes de tudo, pensar sobre meu diário. Ter um diário é uma experiência realmente estranha para uma pessoa como eu. Não somente porque nunca escrevi nada antes, mas também porque acho que mais tarde ninguém se interessará, nem mesmo eu, pelos pensamentos de uma garota de 13 anos. Bom, não faz mal. Tenho vontade de escrever e uma necessidade ainda maior de desabafar tudo o que está preso em meu peito. (ANNE FRANK, 20 de junho de 1942)
ATIVIDADE DO 1º ENCONTRO:
Desenhar a colega com o auxílio do vidro para o registro do primeiro dia da ação educativa e dos semblantes das participantes.(olho no olho)
Entrega do Kit, do livro e explicações sobre o projeto.
2º ENCONTRO – DIA 13 DE ABRIL
Leitura de alguns trechos selecionados do diário e debate sobre os personagens.
Auxílio na elaboração dos diários e sobre as bonecas.
Assistir ao filme sobre a II Guerra.
3º ENCONTRO – DIA 17 DE ABRIL
Leitura de alguns trechos selecionados do diário.
Confecção da mandaluz (mandalas pintadas em vidro que formam o desenho circular com o auxílio de velas).
Nas sociedades primitivas, o ciclo cósmico, que tinha a imagem de uma trajetória circular (circunferência), era identificado como o ano. O simbolismo da santidade e eternidade do templo aparece claramente na estrutura mandálica dos santuários de todas as épocas e civilizações. Uma vez que o plano arquitetônico do templo é obra dos deuses e se encontra no centro muito próximo deles, esse lugar sagrado está livre de toda corrupção terrestre. Daí a associação dos templos às montanhas cósmicas e a função que elas exercem de ligação entre a Terra e o Céu. Como exemplo, temos a enorme construção do templo de Borobudur, em Java, na Indonésia. Outros exemplos que podemos citar são as basílicas e catedrais cristãs da Igreja primitiva, concebidas como imitação da de Jerusalém Celeste, representando uma imagem ordenada do cosmos, do mundo.
A mandala como simbolismo do centro do mundo dá forma não apenas as cidades, aos templos e aos palácios reais, mas também a mais modesta habitação humana. A morada das populações primitivas é comumente edificada a partir de um poste central e coloca seus habitantes em contato com os três níveis da existência: inferior, médio e superior. A habitação para ele não é apenas um abrigo, mas a criação do mundo que ele, imitando os gestos divinos, deve manter e renovar. Assim, a mandala representa para o homem o seu abrigo interior onde se permite um reencontro com Deus. Um exemplo bem típico brasileiro de mandala, a partir da arquitetura, é a planta superior da Catedral de Brasília.
Em termos de artes plásticas, a mandala apresenta sempre grande profusão de cores e representa um objeto ou figura que ajuda na concentração para se atingir outros níveis de contemplação. Há toda uma simbologia envolvida e uma grande variedade de desenhos de acordo com a origem.
O processo de construção de uma mandala é uma forma de meditação constante. É um processo bastante lento, com movimentos meticulosos. O grande benefício para os que meditam a partir da mandala reside no fato de que a imaginaram mentalmente construída numa detalhada estrutura tridimensional.
No processo da construção de uma madala, a arte transforma-se numa cerimônia religiosa e a religião transforma-se em arte. Quando a mandala está terminada, apresenta-se como uma construção extremamente coloria. Depois do ciclo é desmanchada, a areia é depositada, geralmente, na água. Apenas uma parte é guardada e oferecida aos participantes.
Um monge inicia a destruição desenhando linhas circulares com seu dedo, depois espalham a areia e a colocam em uma urna. Quando a areia é toda recolhida, eles apagam as linhas que serviram de guia à construção e despejam a areia nas águas do rio.
4º ENCONTRO – DIA 24 DE ABRIL
Assistir ao filme “A lista de Schindler”
5º ENCONTRO – DIA 27 DE ABRIL
Leitura de alguns trechos selecionados do diário.
6º ENCONTRO – DIA 04 DE MAIO
Montagem da exposição do Centro de Documentação da II Guerra.
EXPOSIÇÃO Abertura no dia 08 de maio de 2009
Setor Anne Frank: 15 Bonecas personalizadas pelas adolescentes que participaram da ação educativa, juntamente com os trechos mais interessantes do diário sobre a personagem Anne Frank, também selecionados pelas adolescentes.
Setor dos diários: 16 diários (1 diário da coordenadora da ação educativa e 15 diários das adolescentes) com anotações, dilemas e confidências relatadas durante a leitura do diário e realização dos encontros.
Leitura dos diários escritos pelas alunas
Setor dos diários: 16 diários (1 diário da coordenadora da ação educativa e 15 diários das adolescentes) com anotações, dilemas e confidências relatadas durante a leitura do diário e realização dos encontros.
“Até agora você tem sido um grande apoio para mim, como também tem sido Kitty, para quem tenho escrito com regularidade. Esse modo de manter um diálogo é bem melhor, e agora, mal posso esperar os momentos de escrever em você.
Ah, estou tão feliz por ter você comigo!
Anne Frank, 28 de setembro de 1942.
Setor Naquela Mesa: Oito cadeiras em volta de uma mesa cada uma representando um dos personagens do esconderijo secreto. Sobre a mesa objetos e utensílios que caracterizam cada um como copos, xícaras, óculos, estrelas amarelas de seis pontas.(legenda em português e braille)
Setor janelas proibidas:
“Desde o primeiro dia, começamos imediatamente a costurar cortinas. Na verdade, mal dá para chamá-las de cortinas, já que não passam de retalhos de pano – variando grandemente em forma, qualidade e padrão – que papai e eu costuramos de qualquer jeito, com dedos desacostumados. Aquelas obras de arte foram colocadas nas janelas, onde vão ficar até que possamos sair do esconderijo...Claro que não podemos olhar pela janela nem sair... (ANNE FRANK, 11 de julho de 1942).
EM 2010, ESTA EXPOSIÇÃO SE TORNOU ITINERANTE.
aguardem!
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