quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Poesia Cora Coralina

                                                                 VELHO SOBRADO

Um montão disforme. Taipas e pedras,
abraçadas a grossas aroeiras,
Toscamente esquadriadas.
Folhas de janelas.
Pedaçõs de batentes.
Almofadados de portas.
Vidraças estilhaçadas.
Ferragens retorcidas.

Abandono. Silêncio. Desordem.
Ausência, sobretudo.
O avanço vegetal acoberta o quadro.
Carrapateiras cacheadas.
São-caetano com seu verde planejamento,
pendurado de frutinhas ouro-rosa.
Uma bucha de cordoalha enfolhada,
berrante de flores amarelas
cingindo tudo.
Dá guarda, perfilando, um pé de mamão-macho.
No alto, instala-se dominadora,
uma jovem gameleira, dona do futuro.
Cortina vulgar de decência urbana
defende a nudez dolorosa das ruínas do sobrado
- um muro.


Fechado. Largado.
O velho sobrado colonial
de cinco sacadas,
de ferro forjado
cede.

Bem que podia ser conservado,
bem que devia ser retocado,
tão alto, tão nobre-senhorial.
O sobrado dos Vieiras
cai aos pedaços,
abandonado.
Parede hoje. Parede amanhã.
Caliça, telhas e pedras
se amontoando com estrondo.
Famílias alarmadas se mudando.
Assustados - passantes e vizinhos.
Aos poucos, a "fortaleza" desabando.

Quem se lembra?
Quem se esquece?

(...)



Fotos feitas por mim em 2009 - Batatais/SP

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